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Reservas internacionais: o futuro do Bitcoin?

Nos últimos 51 anos, o mundo viveu sob um padrão de moedas fiduciárias. Ou seja, moedas que não possuem lastro em nenhum ativo real, como o ouro. Esse modelo mudou completamente a geopolítica global e destacou a importância das reservas internacionais.

Hoje, a maioria das reservas internacionais dos países são em dólar, o que dá à moeda americana um enorme poder. Mas alguns países começaram a diversificar suas reservas em outras moedas nacionais, e um país chegou até a adotar o Bitcoin (BTC) como parte dessas reservas.

Mas o que são as reservas internacionais e por que elas são importantes? E por que o BTC pode vir a ser uma reserva ideal para as maiores nações do planeta? No texto de hoje, vamos responder a todas essas perguntas. Confira.

O que são reservas internacionais?

Para responder esta pergunta, nada como pegar uma definição direto da fonte: o Banco Central do Brasil (Bacen), que cuida das reservas brasileiras. De acordo com o Bacen, as reservas internacionais são:

os ativos do Brasil em moeda estrangeira e funcionam como uma espécie de seguro para o país fazer frente às suas obrigações no exterior e a choques de natureza externa , tais como crises cambiais e interrupções nos fluxos de capital para o país”.

De maneira geral, as reservas internacionais são constituídas em ativos lastreados numa moeda forte. As reservas em dólar, por exemplo, geralmente são compostas de títulos de dívida do governo dos EUA de curto prazo, que possuem ampla liquidez. Reservas em euro são títulos de dívidas de países europeus, e assim por diante.

Esses títulos possuem uma grande liquidez do mercado, isto é, um país pode transformá-los em dinheiro facilmente. Por isso, as reservas internacionais atuam praticamente como uma reserva de emergência, só que para governos.

Qual a importância das reservas internacionais?

Em outras palavras, as reservas internacionais funcionam como um colchão financeiro que protege o país contra crises externas. Além disso, no atual padrão de moedas fiduciárias, elas também atuam como uma espécie de “lastro” para as moedas dos países.

Isso aconteceu no início do Plano Real, lá em 1994, quando o Brasil adotou sua atual moeda. Para garantir o valor do real e mostrar ao mundo que a nova moeda era sólida, o Brasil precisava de dólares. Por isso, o Bacen manteve a taxa de juros muito elevada, visando trazer mais dólares para o país e ampliar essas reservas.

No longo prazo, essa medida apresentou resultados muito satisfatórios, já que de acordo com os dados do Bacen, o Brasil hoje conta com mais de US$ 340 bilhões em reservas internacionais. Para se ter uma ideia, este valor é maior do que a soma das reservas de todos os países da América do Sul, avaliadas em US$ 210 bilhões.

Por ter um forte colchão de liquidez, o Brasil não sofre com choques externos tanto quanto os seus vizinhos. Em contraste, a Argentina teve que decretar feriado bancário esta semana por causa do esgotamento de suas reservas internacionais. 

Por não contar com dólares em caixa, o peso argentino também enfrenta uma alta inflação, superando os 100% nos últimos 12 meses. Dessa forma, as reservas internacionais também impedem que a moeda local perca valor devido à falta de lastro em uma moeda forte.

Tipos de reservas

Como o dólar é a moeda internacional de reserva e unidade de conta, a maior parte das reservas internacionais são de ativos lastreados em dólares. Os já citados títulos de curto prazo do governo dos EUA são a forma mais comum de estabelecer essas reservas.

No entanto, isso dá aos EUA um poder enorme para aplicar uma das mais eficientes sanções: o bloqueio financeiro. Ou seja, o país pode impedir que seus inimigos consigam ter acesso aos ativos lastreados em dólar, deixando seus potenciais desafetos sem dinheiro. Isso aconteceu em 2022, quando o governo Biden congelou grande parte das reservas da Rússia após a invasão da Ucrânia.

Por isso, países como a China e a própria Rússia estão diversificando suas finanças em ativos que os EUA não possam congelar. Nesse sentido, ambos se destacaram como os maiores compradores de ouro de 2022, um ativo sobre o qual os EUA não possuem controle pleno.

O Bitcoin

Mas um ano antes, em 2021, um país passou a adotar outro tipo de ativo como parte de suas reservas: El Salvador. Nos últimos anos, o país comprou milhões de dólares num dos ativos que teve o melhor retorno da última década: o BTC.

De acordo com o site Bitcoin Treasuries, EL Salvador possui uma reserva de 2.481 BTC, ou cerca de US$ 65 milhões. Apesar de elevada, essa reserva ainda é irrisória frente aos US$ 2,5 bilhões que o país possui de reservas lastreadas em dólar. Mas El Salvador se destacou por ser o primeiro país do mundo a adotar o BTC com o objetivo claro de ser uma moeda e uma reserva financeira.

E adotar o BTC nesse sentido tem diversas vantagens. Primeiro, a criptomoeda e sua rede não são controladas por nenhum banco, governo ou banco central. Portanto, nenhum governo ou entidade pode bloquear ou censurar reservas de BTC nas mãos de uma pessoa, como os EUA fizeram com a Rússia.

Segundo, o BTC é um ativo que não depende da capacidade de pagamento de outro país, como os títulos de dívida. Quem tem BTC tem um ativo que possui seu próprio valor e não depende da nota de crédito, o que significa que o investidor não corre o risco de perder seu dinheiro se o governo der calote.

Outra vantagem é que, ao contrário do ouro, qualquer pessoa pode mover BTC pela Internet em questão de minutos. Um país consegue enviar bilhões de dólares utilizando um simples smartphone para qualquer lugar do mundo, a qualquer dia, sem precisar depender de bancos.

Claro que há desvantagens, como a alta volatilidade no preço do BTC. Mas essas vantagens são ínfimas comparadas com as vantagens de ter uma reserva independente de qualquer autoridade. E conforme o uso do BTC aumenta, a sua volatilidade tende a diminuir até que ele se torne tão estável quanto o ouro.

Em suma, as reservas internacionais funcionam como uma proteção contra crises, mas também podem ser usadas como armas políticas por uma grande potência. Por isso, a diversificação de reservas tem ganho destaque, e o BTC pode se beneficiar muito desse novo cenário.

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