O Banco Central da Argentina decidiu esta semana banir as operações com Bitcoin e qualquer outra criptomoeda em apps de empresas financeiras que ofereciam esse tipo de transação. A justificativa da autoridade monetária foi de que a atitude “visa garantir a segurança dos investidores e evitar riscos financeiros desnecessários”.
No entanto, para especialistas, esta foi apenas uma desculpa do governo Argentino, que na verdade está tentando evitar que as criptomoedas sejam usadas como uma forma da população se proteger da forte desvalorização do peso argentino.
“A medida com certeza é uma tentativa de impedir e diminuir a usabilidade de criptomoedas pela população, já que a classe de ativos vem sendo utilizada principalmente como forma de fugir da hiperinflação que ronda a moeda local e também para enviar capital para o exterior”, afirma Paulo Fernando Braga, CEO da Omega Digital Assets, em entrevista ao Money Crunch.
A visão é compartilhada pelo analista de criptomoedas da Convex Research, Giovanni Rosa. “É uma forma de tentar controlar da evasão de dinheiro. Eles já controlam a compra mensal de dólar e agora querem controlar as criptos. Quando o investidor compra Bitcoin, ele fica “indexado” no dólar. Nas stablecoins, que são lastreadas em dólar, ele também está se dolarizando”, afirma Rosa.
O analista cita dados que mostram que um terço dos argentinos compram até US$ 1 mil de stablecoin. “Não estamos falando de super ricos. É o cidadão médio querendo se proteger da desvalorização da moeda, então usa essas ferramentas”, destaca. (veja gráfico mais abaixo)
Na opinião de Braga, da Ômega, esse tipo de atitude é normal em países que sofrem de uma inflação galopante e desvalorização de suas moedas. “Vemos a usabilidade de criptomoedas principalmente stablecoins crescer de maneira significativa”, diz.
China também baniu, mas operações continuam
Os especialistas destacam que a China também já tomou diversas atitudes para banir o Bitcoin e as criptomoedas do país, porém nunca conseguiu êxito total nas tentativas.
Braga ressalta que o governo chinês impede o desenvolvimento de qualquer alternativa que diminua o controle estatal. “Com as criptos não seria diferente. Apesar disso, nos últimos anos já vimos a China banir e liberar cripto algumas vezes e é importante frisar que o próprio governo chinês é uma baleia de Bitcoin, ou seja, detentor de uma enorme quantidade de Bitcoins”, afirma.
Segundo Giovanni Rosa, mesmo com as proibições do governo, os chineses continuaram operando com Bitcoin.
“Quando houve a quebra da corretora FTX, os documentos que foram divulgados mostram que muitos clientes eram da China. Então mesmo com todas as proxys de bloqueios de site, os chineses conseguiram acessar a FTX. Logo, vemos duas fragilidades no controle Chines: a primeira é não conseguir justamente bloquear a operação da rede bitcoin, já que ela é peer to peer e não tem um órgão regulador. A segunda é que não consegue bloquear o acesso dos chineses a uma corretora norte-americana”, destaca o analista da Convex.
Afinal, tem como “banir definitivamente” o Bitcoin?
Se você se pergunta se há como um país impedir totalmente as operações com Bitcoin, os especialistas respondem que não. Isso porque o Bitcoin é um ativo descentralizado, ou seja, sua rede não necessita e nem possui nenhum órgão centralizador – como um Banco Central. Na prática, isso significa que a rede irá sobreviver enquanto houver um único servidor ou computador ligado a ela.
“O que os países tentam fazer é banir as corretoras e empresas de criptomoedas principalmente retirando o acesso aos seus sites, impedindo assim a troca de criptomoedas para moedas fiat (real,dólar,euro, sua moeda local). Porém, desde que o usuário tenha acesso à internet, ele consegue acessar a rede do Bitcoin e fazer transferências p2p (peer-to-peer) ou mesmo se utilizar de um VPN para acessar as corretoras de criptomoedas mesmo que os sites sejam banidos”, afirma Braga.
Giovanni Rosa vai além, e aponta que até mesmo sem internet seria possível negociar Bitcoin. “Mesmo em um cenário “apocalíptico”, de uma guerra global que derrube a internet, ainda assim o bitcoin poderia continuar sendo transacionado. Isso porque há como operar com o Bitcoin por frequência de rádio. Seria uma das únicas maneiras das pessoas fazerem alguma transação de valor monetário em meio a um cenário apocalíptico”, conclui o analista.