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O colonialismo na África não acabou – e o Bitcoin está libertando os países

O fim do colonialismo direto nos países da África é uma experiência longa cujo final ocorreu há poucas décadas. Alguns países, como Angola e Moçambique, só tiveram suas independências reconhecidas pelas antigas metrópoles (Portugal) nos anos 1970.

Com o fim da colonização, parecia que as nações africanas poderiam enfim trilhar seu próprio caminho de desenvolvimento e busca por riqueza e qualidade de vida. Mas isso não aconteceu, e ainda hoje a África é o continente mais pobre e menos desenvolvido do mundo.

Fatores como a falta de liberdade econômica e a proliferação de ditaduras ajudam a explicar isso. Só que há outro fator que é menos conhecido e que mantém boa parte da África pobre. É o fato de que muitos países ainda utilizam uma moeda que é emitida pelos seus colonizadores, e o maior exemplo disso é a França e o franco CFA.

Colonização monetária

Durante séculos, o Império Colonial Francês foi o segundo maior domínio colonial de toda a África, atrás somente do Império Britânico. A França dominou vários territórios africanos, incluindo a Argélia, maior país do continente e 10º maior do mundo.

Oficialmente, o Império Colonial Francês na África chegou ao fim justamente com a independência da Argélia, em 1962. Extraoficialmente, no entanto, a França continuou exercendo domínio sobre as suas ex-colônias não através da força militar, mas sim pelo dinheiro: o franco CFA.

Essa moeda, emitida pelo Banque de France, o banco central francês, é utilizada em 14 países do continente africano. Dois deles (Guiné-Bissau e Guiné Equatorial) não fizeram parte do império francês, mas os outros 12 são todos ex-colônias da terra de Luís XIV. Países como Senegal, Camarões, Chade, Gabão e Mali utilizam esta moeda como moeda corrente.

Por ser emitido pela França, o franco CFA possuía uma relação estreita com o antigo franco francês, que foi substituído pelo euro em 2002. Criado em 1945, o franco CFA tinha a cotação de 1 CFA para cada 1,70 franco francês em 1948, mas o banco central da França começou a desvalorizar a moeda, cuja cotação caiu ao longo dos anos. Apenas dez anos depois, 1 franco CFA já tinha caído de valor para menos de 0,02 FF – isso mesmo, dois centavos de franco francês.

Mas o grande golpe no preço do franco CFA ocorreu em 12 de janeiro de 1994, quando o Banque de France fez a moeda africana perder 50% do seu valor, caindo de 0,02 FF para 0,01 FF. Literalmente do dia para a noite, milhões de pessoas perderam 50% de sua riqueza apenas com a desvalorização da moeda.

A África e o Bitcoin

Foi nesse contexto que um senegalês chamado Fodé Diop, ainda nos anos 1990, foi aceito na Emporia State University, no Kansas, EUA. Diop iria fazer o curso de engenharia e jogar basquete no último ano do ensino médio no Senegal e, em seguida, partiria rumo à América.

Só que a vida de Diop quase virou do avesso. Na época, seu pai economizou apenas o dinheiro suficiente para pagar a mensalidade, mas antes de fazer a matrícula do filho, Diop Sr. viu suas economias foram cortadas pela metade graças à intervenção do Banque de France.

Mesmo assim, Diop conseguiu ir para os EUA e realizar seus sonhos. Formou-se na faculdade e jogou basquete e, em 2008, leu o whitepaper do Bitcoin (BTC), que descrevia uma nova forma de dinheiro digital. E o senegalês viu na criação de Satoshi Nakamoto uma fuga para a opressão financeira que atingiu seu pai quase 15 anos antes.

“Quando li o white paper [do Bitcoin] eu disse: esta é uma arma para lutarmos contra a opressão. Sinto que talvez os governos ainda estejam ameaçados, mas para mim, a tecnologia de código aberto é simplesmente linda”, disse Diop à Bitcoin Magazine em setembro de 2021.

Hoje, Diop é desenvolvedor web e trabalha desenvolvendo aplicações para o Bitcoin e a Lightning Network, rede de segunda camada da criptomoeda. E ambas as tecnologias estão trazendo liberdade para o continente-mãe.

O caminho da liberdade

Em 2022, a África foi o lar do segundo país do mundo a adotar o Bitcoin como moeda oficial. Este país é a República Centro-Africana (RCA), um dos 14 países que ainda utilizam o franco CFA, mas que tornou o Bitcoin moeda corrente em abril deste ano.

Na ocasião, o presidente do país, Faustin Archange Touadera, apoiou o projeto com entusiasmo. Ao comemorar a aprovação da lei, Touadera citou exatamente o fato do Bitcoin ser livre de influências políticas como uma das razões para a RCA adotá-lo como uma alternativa à opressão da moeda colonizadora francesa.

E a adoção do Bitcoin tem na África um dos seus principais pontos de expansão, sobretudo em países como Nigéria, Quênia e Zimbábue, onde a população sofre com moedas desvalorizadas ou governos opressores. Nesse sentido, o Bitcoin surge como uma luz que guia os cidadãos para uma alternativa de dinheiro com menos controle, mais liberdade e, principalmente, mais valor ao longo do tempo.

Curiosamente, este texto foi escrito no início da semana do Hanukkah, fato que a Convex Research destacou em uma de suas publicações mais recentes. Embora eu não seja judeu, admiro o Hanukkah por causa de um dos seus princípios, que é a comemoração da vitória do povo judeu sobre a dominação helênica. Por isso, o Hanukkah é uma celebração à vitória da luz e da liberdade sobre as trevas e a opressão. 

E assim como as velas da tradição judaica simbolizam esses valores, o Bitcoin simboliza a vitória da liberdade dos africanos sobre seus antigos opressores e suas modernas ferramentas. Que mais países adotem esse caminho e possam levar a liberdade até suas populações.

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