O Ibovespa, principal índice de ações da B3, se aproximou de perder o nível dos 100 mil pontos na última quarta-feira (15). Às 11h50, o índice atingiu a mínima do dia, aos 100.714 pontos, indicando uma queda de mais de 2%.
Depois de subir 3,37% em janeiro, o benchmark teve uma queda expressiva de 7,5% em fevereiro e já acumula perdas de 2,15% em março. No acumulado do ano, a desvalorização acumulada é de 6,44%.
Na quarta-feira, a aversão ao risco tomou conta dos mercados após a informação de que o Saudi National Bank, maior investidor do banco Credit Suisse, não poderia mais fazer aportes para ajudar o banco suíço. As ações do Credit desabaram mais de 20% e levaram consigo boa parte dos índices de ações globais.
Mas a turbulência do Ibovespa já vem acontecendo há muito mais tempo e passa pelas pressões internas, como a falta de um arcabouço fiscal e as discussões sobre taxa de juros e metas de inflação no país.
Em carta enviada aos cotistas, os gestores do fundo Multimercado Macro, da XP Asset, afirmam que continuam “bem preocupados” com os rumos da discussão fiscal de longo prazo no Brasil.
“Somando-se a deterioração do arcabouço fiscal desde a transição do governo, nos parece que a última âncora ainda existente, a monetária, também está sob ataque. Ao longo do mês, uma discussão inoportuna sobre elevação de metas de inflação, independência do BC e pressão quase que diária quanto ao nível da taxa de juros elevaram em muito a incerteza sobre os rumos da política monetária no Brasil”, afirmam.
Com isso, eles pontuam que o cenário para a bolsa brasileira continua desafiador, com diversos vetores apontando para menor crescimento no longo prazo. “Risco fiscal, inflação mais alta, elevação da carga tributária e juros mais elevados se somam agora ao risco de maior retração de crédito”, afirmam. “Continuamos com viés negativo em bolsa”, concluem os gestores.
A opinião é compartilhada por boa parte dos gestores de fundos multimercados e de ações do país. A equipe da Daycoval Asset Management também destacou as “incertezas em relação ao cenário prospectivo do Ibovespa” e apontou os mesmos fatores: “Patamar alto dos juros, insegurança regulatória, incerteza fiscal, diminuição do crédito e por fim desaceleração econômica”.
Os gestores também fizeram uma ponderação, afirmando que o avanço da aprovação de reforma que simplifique o “caos tributário”, sem aumentar a carga, poderá ser um evento positivo para a bolsa neste ano.
“Mas teremos que analisar setor a setor para entender quais se beneficiarão com uma eventual política tributária nacional nova”, afirmaram.
China também afetou
Para João Luiz Braga, analista e fundador da Encore Asset, as questões internas realmente afetam o desempenho da Bolsa, mas há um outro fator que também vem mexendo com o nosso mercado: a economia da China.
“Muita gente pensa: o Brasil está essa bagunça política. Isso é verdade, mas talvez o principal motivo não tenha sido esse, mas sim a China”, afirmou.
O gestor destacou que a Bolsa chinesa subiu em janeiro e caiu em fevereiro, em um movimento parecido com o nosso. “FXI, ETF norte-americano que investe em large caps chinesas, subiu 12% em janeiro, em dólar, e caiu os mesmos 12% em fevereiro”, destaca.
Segundo Braga, nas primeiras semanas do ano houve uma grande expectativa do mercado com a reabertura chinesa, que estava com restrições por causa da Covid. “Mas o fato é que isso não apareceu nos dados divulgados em fevereiro e o mercado foi começando a se frustrar com essa aposta. Acho que foi isso que aconteceu”, acredita.
Por ser uma grande importadora de commodities do Brasil, dados da China impactam diretamente empresas com grande peso no Ibovespa, como a Vale. Desde o dia 26 de janeiro, as ações da mineradora acumulam queda de 17%.