Nesta quarta-feira (15), Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, afirmou em uma carta destinada aos investidores que o “descasamento de liquidez” pode ser mais um problema que se tornará visível daqui para frente.
“Dominós começando a cair”
No início da carta, Fink pontua que desde o final da crise financeira de 2008, que teve as hipotecas americanas de alto risco como pano de fundo, os mercados passaram a ter “políticas fiscais e monetárias extraordinariamente agressivas”.
Como resultado dessas políticas, vimos a inflação subir acentuadamente para níveis não vistos desde a década de 1980. Para combater essa inflação, o Federal Reserve no ano passado elevou as taxas em quase 500 pontos básicos. Este é um preço que já estamos pagando por anos de dinheiro fácil – e foi o primeiro dominó a cair.
afirma um trecho da carta do CEO
Consequentemente, os títulos de renda fixa se desvalorizaram, devido aos efeitos da marcação a mercado – que representa a atualização dos preços dos papéis segundo as condições de negociação vigentes. No mercado americano de bonds, lembrou Fink, a queda foi de 15% em 2022.
A crise bancária nos EUA
Sobre a falência de bancos observada na última semana, o CEO destaca que ocorreu uma “incompatibilidade clássica entre ativos e passivos”, uma vez que o banco usou capital para comprar títulos o governo e privados, do segmento de hipotecas (MBS, na sigla em inglês), e quando precisou vendê-los para honrar resgates que vinham sendo solicitados, seu valor havia reduzido fortemente em função dos juros mais altos.
Em sua visão, ainda é cedo para saber o tamanho dos danos, mas, até o momento, a “resposta regulatória foi rápida e ações decisivas ajudaram a evitar riscos de contágio”.
Porém, o que Fink espera é que, a partir de agora, o mercado passará a ver padrões de capital mais rígidos para os bancos. No longo prazo, a crise bancária dará maior importância ao papel dos mercados de capitais.
À medida que os bancos se tornam potencialmente mais limitados em seus empréstimos, ou à medida que seus clientes despertam para essas discrepâncias de ativos e passivos, prevejo que eles provavelmente recorrerão em maior número aos mercados de capitais para financiamento.
afirmou Fink
O terceiro dominó a cair: descasamentos de liquidez
Juntamente com aquilo que identificou como “descasamentos de duração”, Larry Fink apontou que o terceiro dominó que virá a cair será o “descasamento de liquidez”.
O processo é resultado de anos de taxas mais baixas, que fizeram com que proprietários de ativos aumentassem seus compromissos com investimentos ilíquidos, trocando liquidez mais baixa por retornos mais altos. Dessa forma, passa a existir agora o risco de uma incompatibilidade de liquidez para esses proprietários de ativos, principalmente para aqueles com carteiras alavancadas.
Como a inflação permanece elevada, o Federal Reserve permanecerá focado no combate à inflação e continuará a aumentar as taxas. Embora o sistema financeiro esteja claramente mais forte do que em 2008, as ferramentas monetárias e fiscais disponíveis para formuladores de políticas e reguladores para lidar com a crise atual são limitadas, especialmente com um governo dividido nos Estados Unidos.
Após anos de crescimento global impulsionado por gastos governamentais recordes e taxas baixas recordes, o executivo explica que o foco agora deve ser sobre o setor privado, que será necessário para “desenvolver as economias e elevar os padrões de vida das pessoas em todo o mundo”.
Precisamos que os líderes governamentais e corporativos reconheçam esse imperativo e trabalhem juntos para liberar o potencial do setor privado.
disse Larry Fink.
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