Diego Lazzaris
Maria Antônia Anacleto
A crise nos bancos vem alarmando os investidores em todo o mundo e provocando ainda mais volatilidade nos ativos de risco.
O Silicon Valley Bank quebrou na sexta-feira passada (10), depois que boa parte dos investidores promoveu uma corrida por saques em meio às desconfianças sobre a robustez da instituição.
Conhecido como “O banco das startups”, o SVB era o 16º maior banco dos EUA, com US$ 212 bilhões (R$ 1,12 trilhão) em ativos e US$ 175 bilhões em depósitos reportados no balanço do quarto trimestre de 2022.
Apenas dois dias depois, outro banco dos EUA sofreu intervenção dos órgãos reguladores: o Signature Bank, que tinha US$ 110,3 bilhões em ativos até 31 de dezembro de 2022.
Mas o problema não parou por aí. Na quarta-feira (15), o Credit Suisse viu suas ações desabarem mais de 25%, com a desconfiança cada vez maior dos investidores sobre a sua solidez. O movimento aconteceu depois que o Saudi National Bank, maior acionista da instituição, afirmou que não faria mais aportes no banco.
Um dia depois, as ações tiveram uma recuperação, impulsionadas pela notícia de que a instituição havia solicitado um empréstimo de US$ 54 bilhões ao Banco Central da Suíça. Mas o alívio durou pouco: nesta sexta-feira os papéis voltaram a cair forte.
Além de todos estes casos, mais uma “quase quebra” afetou o mercado esta semana. O First Republic foi socorrido às pressas por 11 grandes bancos norte-americanos, com a injeção de US$ 30 bilhões para evitar o pior.
Com todas essas notícias, não há como evitar o medo de uma crise sistêmica se alastrando pelo mercado financeiro global.
“Quando os juros sobem você descobre ‘quem estava nadando pelado’”, diz Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research. “Agora vamos começar a ver quem estava fazendo coisa errada”, continua.
Para ele, o tamanho da crise ainda não pode ser previsto, mas é preciso ficar atento. “Pode ser uma ‘mega-crise’? Pode. Mas acho que é menos provável porque quem causou tudo isso foram os Bancos Centrais, quando subiram os juros. Não deu nem tempo de entender o que aconteceu com o SVB e o BC [dos EUA] já agiu”, aponta, se referindo à rápida intervenção dos órgãos reguladores norte-americanos.
Com o Credit Suisse, ele destaca que o problema é antigo. “O banco vem em declínio desde 2008. Junto com ele, vários outros bancos na Europa [também enfrentam dificuldades], como o Deutsche Bank”, aponta.
Já com o SVB houve um descasamento entre os ativos e passivos. Após a elevação rápida das taxas de juros por parte do BC norte-americano (Fed), o mercado passou a notar impactos na precificação de várias classes de ativos, entre elas, a de títulos com prazos mais longos do Tesouro Americano.
E foi exatamente isso que pegou em cheio o SVB, que possuía a maior parte de sua carteira alocada nestes títulos de logo prazo, mantendo os depósitos dos clientes em títulos públicos e papéis lastreados em hipotecas. “Estes títulos foram muito afetados, caíram de preço e descasou os ativos e passivos do banco”, afirma Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research.
Segundo ele, os investidores precisam ficar atentos, pois há um problema generalizado envolvendo crédito. “O principal é o mercado imobiliário e os créditos originados desse mercado nos EUA, que estão se deteriorando rapidamente. Então, muitos bancos regionais agora estão sofrendo por terem carteiras de créditos imobiliarios”, afirma.
Bruce Barbosa também afirma que existe a possibilidade de uma crise generalizada, mas ainda não há como prever. “Não dá para saber, pode ser uma ‘crisezinha’ ou uma ‘crisezona’. Por exemplo, na época da crise do subprime, ninguém sabia que os bancos estavam super comprados em títulos que não eram tão bons quanto a gente imaginava. E no final foi aquela catástrofe”, compara.
Atenção e cautela
Diante deste cenário, os especialistas aconselham que os investidores tenham cautela e invistam sempre pensando na preservação do patrimônio. “Talvez o investidor deva ser menos corajoso agora. É importante entender bem o que está comprando”, afirma Barbosa.
Ele lembra que em momentos de maior aversão ao risco, a volatilidade pode tirar do jogo boa parte dos investidores que não estavam preparados. “Investir é psicológico. Nessas horas, as pessoas que não têm muito estômago e não tem perfil para ter investimentos voláteis acabam vendendo seus ativos. E esse é o pior momento, porque depois o papel sobe e a pessoa quer comprar novamente”, alerta.
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