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Contra calote nos EUA, americanos recorrem ao Bitcoin como refúgio

A discussão sobre o teto da dívida dos Estados Unidos tomou corpo nas últimas semanas, conforme o caixa do governo começa a secar. E de acordo com as estimativas, o país pode ficar sem dinheiro para pagar as contas até o dia 1 de junho.

Mas o pior não é ficar sem dinheiro, e sim sem crédito – e este mesmo risco também afeta o país. Sem a elevação do teto, os EUA correm o risco de não conseguir emitir mais dívida e ainda terão que dar calote. O fato seria inédito na história e poderia causar uma turbulência e imprevisibilidade no mercado.

Só que um ativo pode se beneficiar desse eventual calote: o Bitcoin (BTC), que está despontando com um ativo anti-crise. De fato, uma pesquisa mostra que o BTC fica atrás apenas do ouro e dos títulos de longo prazo na preferência dos cidadãos.

Portanto, o texto de hoje vai abordar como funciona o teto da dívida dos EUA, o risco da não elevação e o eventual calote, e como o BTC pode se beneficiar disso.

Teto centenário

O limite de endividamento dos EUA existe desde 1917, ou seja, há 106 anos. Neste período, o teto passou por mais de 80 elevações, uma média de uma elevação a cada 1,25 ano.

De certa forma, o teto da dívida nos EUA funciona de maneira semelhante ao teto de gastos do Brasil, mas com algumas diferenças. No Brasil, o teto de gastos determinava que os gastos não poderiam crescer acima da inflação. Já nos EUA, o teto determina um valor total para o endividamento (hoje está em US$ 31,4 trilhões).

Além disso, o teto da dívida dos EUA não atrela o crescimento a um indicador, como a inflação fazia aqui no Brasil. Para aumentar o teto da dívida, o governo americano precisa de autorização do Congresso – que pode aumentar ou suspender o teto. Por isso, sempre que o governo precisa gastar mais, ele precisa negociar com o Congresso para aumentar este teto.

Quando o partido que está na presidência controla as duas casas (Câmara e Senado), geralmente a negociação ocorre sem problemas. Mas quando a oposição controla uma ou as duas casas, as negociações tendem a ser mais duras.

E é justamente o segundo cenário que ocorre atualmente, onde o partido Democrata controla a Presidência e o Senado, mas os Republicanos controlam a Câmara. Por isso, as negociações para o aumento do teto estão abertas, mas sem nenhum acordo. Os Republicanos exigem cortes de gastos como contrapartida, algo que os Democratas querem evitar, entre outras divergências.

Isso aumenta o risco de não aprovação do teto. Mas o que acontece se não houver um acordo?

Riscos da não elevação

Nos anos 1940, o teto estava em US$ 49 bilhõe, mas o limite chegou a US$ 300 bilhões em 1963 e então em US$ 1 trilhão em 1981. Já em 2021, o teto foi elevado a 31,4 trilhões de dólares, mas foi rompido em janeiro deste ano.

Cada vez que há uma elevação, o governo recebe um novo cheque para manter seus gastos. Isso inclui o pagamento de dívidas que já foram contraídas no passado.

Por isso que o risco de não elevação do teto da dívida preocupa o mercado. Se isso acontecer, o governo dos EUA ficará sem dinheiro em caixa para arcar com o pagamento das contas. Sem dinheiro em caixa, restará ao país recorrer à emissão de dívida.

Só que o estouro do teto também impede por lei que o governo tome dívidas, o que impede que ele pague até os títulos de dívida. Na prática, isso faria os EUA darem um calote na sua dívida, ainda que de forma temporária.

Isso traria algumas consequências preocupantes. Por exemplo, há grandes fundos que investem em títulos do governo que, por limitação estatutária, são proibidos de investir em países com títulos em default (calote). E se os EUA derem calote, será que estes fundos terão que vender seus títulos americanos?

É justamente esta incerteza que traz riscos enormes ao mercado, inclusive nas criptomoedas. A Circle, emissora da stablecoin USDT, já anunciou a retirada do seu balanço de títulos dos EUA com vencimento antes de 1 de junho. A medida, de acordo com a empresa, visa proteger a stablecoin de um eventual calote.

“Para ser sincero, se houver calote por parte dos EUA será temporário e geraria volatilidade – e o Bitcoin tende a se beneficiar de períodos de incertezas. Nada preocupante do ponto de vista de longo prazo. Os EUA possuem uma hegemonia que dificilmente será quebrada. Do ponto de vista financeiro e, até mesmo, geográfico”, afirma Giovanni Rosa, analista on-chain da Convex Research.

Bitcoin pode se beneficiar

Ao passo que o mercado tradicional se preocupa com um eventual calote, o preço do BTC pode reagir bem. De fato, a criptomoeda é o melhor ativo de 2023, registrando alta de 30% mesmo diante da crise bancária que assolou os EUA no início do ano.

No dia 15 de maio, a Bloomberg, preocupada com o risco de calote, realizou uma pesquisa com 637 investidores americanos, tanto profissionais quanto pequenos investidores de varejo. O questionário trazia uma pergunta simples e direta:

“O que você comprará se os EUA atingirem o teto da dívida?”

Três ativos se destacaram entre as respostas. O primeiro colocado foi o ouro, que é um tradicional ativo de proteção contra crises. Cerca de 51% dos investidores profissionais comprariam ouro, contra 45% dos investidores de varejo.

Em seguida vieram os Treasuries, que são os títulos do governo dos EUA com foco no longo prazo. Mesmo com o risco de calote, 14% dos investidores tradicionais comprariam Treasuries, contra 15,1% do varejo. O percentual indica que os investidores acreditam que mesmo um eventual calote não vai durar muito tempo.

Mas a grande surpresa está no terceiro lugar, ocupado por ninguém menos que o BTC. Entre os grandes investidores, 7,8% comprariam BTC neste cenário, e 11,3% dos investidores de varejo colocaram a criptomoeda como opção. É a maior diferença entre todas as respostas.

A entrada do BTC nessa lista pode surpreender muitas pessoas, mas faz sentido do ponto de vista do ativo. Assim como o ouro, o BTC é um ativo que não depende da capacidade de pagamento de nenhum governo. Ele não é uma dívida nem uma promessa de pagamento de um governo.

Logo, o uso do BTC em momentos de crise, onde a capacidade de arcar com pagamento de compromissos diminui, possui muitas vantagens. Por outro lado, o BTC é digital e, ao contrário do ouro, é mais fácil de adquirir e armazenar, o que permite que mais pessoas possam adquirir a criptomoeda com facilidade.

De acordo com Rosa, a inclusão do BTC neste ranking numa posição elevada indica que o BTC está se consolidando como reserva de valor. O analista acredita que, no futuro, a criptomoeda pode captar muito valor dos títulos de dívida e outros investimentos.

“Sim, acredito. Os Volcano Bonds, títulos lastreados em Bitcoin de El Salvador, podem ser a faísca para o Bitcoin entrar nesse oceano azul de captação de valor. O Bitcoin é um ativo não soberano ao portador, sem risco de contraparte e pode servir como uma alternativa de diversificação aos títulos emitidos por governos e empresas”, completa.

Em suma, os EUA darão um calote em sua dívida? A resposta provavelmente é não: o governo e o Congresso provavelmente chegarão a um acordo para elevar o teto. Mas isso significa empurrar a discussão para o futuro, exigindo um novo aumento no teto e, mais uma vez, consolidando o BTC como um ativo superior a boa parte das demais reservas de valor atualmente em uso.

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