No começo de setembro o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil recuou 0,1% no 2º trimestre de 2021, na comparação com os três meses imediatamente anteriores.
No primeiro trimestre deste ano, a economia brasileira havia registrado um crescimento de 1,2%.
Mas o que muita gente não sabe é como é feito o cálculo do PIB e como os economistas fazem as projeções para este importante indicador utilizando a chamada “herança estatística”.
Para entender como funciona essa “herança”, que também é conhecida como “carregamento estatístico”, Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research, ensinou a fazer o cálculo da variação do PIB, tomando como base os números oficiais divulgados pelo IBGE.
Em primeiro lugar, é preciso acessar o Sistema de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE (SCNT).
Em seguida, clicar na opção “tabelas” do menu lateral e selecionar o item “Série Encadeada do Índíce Trimestral com Ajuste Sazonal”.
Depois é só fazer o download da tabela. Os dados que serão utilizados para calcular o PIB estão na coluna “F”, com nome “PIB a Preços de Mercado”.
Com esses dados, calcula-se a média dos trimestres de um ano. “É com essa média que vamos comparar a média dos 4 trimestres do ano seguinte para então chegar no resultado do PIB anual”, explica Rytenband.
Veja o exemplo abaixo:
Neste caso, a média dos 4 trimestres de 2020 foi de 163,48. Logo, este número será utilizado como base de comparação para o cálculo do PIB de 2021.
Note que o último trimestre de 2020 ficou em 169,4, bem acima da média do ano (de 163,48).
Ou seja, mesmo que o PIB de todo o ano de 2021 ficasse estagnado em 169,4 isso já seria suficiente para que houvesse um “crescimento” de 3,62%, totalmente baseado em um “carregamento” do ano anterior.
Agora imagine um cenário diferente, com a mesma média de 163,48 em 2020, porém com o último trimestre terminando em 152,6. Neste caso, o PIB de 2021 precisaria de um forte crescimento para chegar na média do ano anterior.
“Isso é o que chamamos de herança estatística. Da mesma forma que ela pode ‘ajudar’ o PIB a ter um resultado melhor em determinado ano, como aconteceu em 2021, ela também pode afetar negativamente”, explica Rytenband.
(Para assistir ao vídeo com a explicação de Rytenband, clique aqui)
Economistas utilizam para projeções
A herança estatística é utilizada pelo mercado para as projeções do PIB. Toda semana, por exemplo, o Banco Central divulga o Boletim Focus, com a média das projeções dos analistas para os principais indicadores da economia.
No caso do PIB, o mercado espera uma alta de 5,15% em 2021. Como já vimos, deste número, 3,62% é apenas “herança estatística” do ano passado.
Já para 2022, quando provavelmente não teremos um carregamento tão significativo, as projeções são bem mais fracas: o Focus indica um crescimento de 1,93% da economia no próximo ano.
“Tenho visto bons economistas fazerem projeções ainda menores, na faixa de 1% de crescimento para 2022”, afirma Rytenband.