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Confiscos, corridas bancárias e o Bitcoin

O mês de março começou de maneira alarmante para o mercado financeiro, com riscos de falência em todo o setor bancário dos Estados Unidos. No entanto, os investidores de criptomoedas só têm a comemorar, pois seus investimentos se valorizaram em meio a crise vigente.

Entretanto, para os brasileiros, o mês atual é de relembrar um dos maiores roubos ocorridos na história do país: o confisco da poupança. Na próxima quinta-feira (16), o evento protagonizado em 1990 pelo então presidente Fernando Collor de Mello completará 33 anos, mas ainda deixa marcas profundas nos brasileiros.

Uma dessas marcas tem justamente a ver com o Bitcoin (BTC), cuja adoção no Brasil é uma das maiores do mundo. No texto de hoje vamos conhecer o passado e o presente dos eventos financeiros e mostrar como ambos se relacionam com o futuro do BTC.

Confisco: 33 anos

No final dos anos 1980, o Brasil vivia uma das hiperinflações mais longas da história, com mais de 10 anos de preços subindo na casa de 10% ao mês. Em 1990, Collor, já empossado como presidente, elaborou um plano controverso para tentar acabar com a alta dos preços.

Intitulado Plano Brasil Novo, ou simplesmente Collor I, a ideia do projeto era cortar gastos e limitar a circulação de moeda na economia. O plano partia de uma premissa que, a princípio, era correta: a inflação é o aumento de dinheiro na economia. Logo, se a oferta de dinheiro diminuir, o seu valor tende a se estabilizar, acabando com a alta nos preços.

Todavia, a execução do plano foi um completo desastre. Ao invés de cortar a emissão de dinheiro por parte do estado, a equipe econômica decidiu cortar o dinheiro nas contas bancárias. 

O resultado: em 16 de março de 1990, a equipe econômica do presidente anunciou o plano, que incluía a troca da moeda (de cruzado novo para cruzeiro), mas também chocou o Brasil ao anunciar o bloqueio dos depósitos em poupança.

De acordo com a então ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Melo, o bloqueio atingiria todos os valores acima de 50 mil cruzeiros. O valor que excedesse esse limite ficaria bloqueado no Banco Central, a princípio por 18 meses. 

Dias de fúria

No entanto, a maioria das pessoas ainda não recebeu esse dinheiro mesmo mais de 30 anos após o confisco. O confisco foi uma medida tão chocante que causou uma série de mortes no Brasil. Centenas de pessoas infartaram, outras cometeram suicídio ao não conseguirem sacar seu próprio dinheiro dos bancos.

Na época, os clientes dos bancos experimentaram um misto de perplexidade, confusão e revolta. Alguns deles invocaram o personagem de Michael Douglas no filme Um Dia de Fúria e investiram com violência contra as agências bancárias. Em Campo Grande (MS), um agricultor teve um dia de fúria ao confirmar que seu dinheiro estava bloqueado. Indignado com o confisco, entrou no carro, avançou na direção de uma agência do Banco Safra e estilhaçou a porta de vidro.

O confisco foi um crime brutal contra uma população indefesa. Afinal, muitos brasileiros guardavam seu dinheiro nos bancos para não perder poder de compra com a inflação. Após o bloqueio, muitos deles perderam as economias de uma vida inteira – e não existia Bitcoin para servir como alternativa ao dinheiro estatal.

De acordo com estimativas, o confisco atingiu cerca de US$ 100 bilhões, o que correspondia a 30% do PIB do Brasil na época, o que torna este o maior confisco já realizado por um governo democrático na história. Em 2021, a HBO lançou um documentário intitulado “Confisco”, que conta a história do plano e suas consequências.

Crises bancárias e bloqueios

O confisco da poupança no Brasil foi uma crise generalizada, um evento quase anômalo na história. Mas existem exemplos menores de crises bancárias que levaram pessoas a perder acesso ao seu próprio dinheiro. Esses exemplos geralmente acontecem quando um banco vai à falência.

Foi justamente o que aconteceu nos EUA na semana passada, com três bancos pró-criptomoedas decretando liquidação ou tendo sua falência declarada pelo governo. O primeiro foi o Silvergate, que decidiu liquidar suas operações de forma voluntária e reembolsar os seus clientes.

O banco citou os problemas regulatórios no setor de criptomoedas nos EUA, bem como problemas internos de liquidez, como justificativas para a liquidação. Mas ele não chegou a falir. Já o Silicon Valley Bank, ou SVB, teve a sua falência decretada pelo governo dos EUA menos de 48 horas após o Silvergate.

A partir daí, o sistema virou uma bola de neve. O próximo da lista foi o Signature Bank, cuja falência o governo decretou ainda durante o final de semana.

No caso do SVB, o banco possuía cobertura do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), um fundo do governo que garante os depósitos de clientes de bancos. O FDIC garante valores de até US$ 250 mil por cliente e instituição financeira.

Mas o SVB não era um banco de varejo comum, e sim uma instituição voltada para startups e empresas. Por isso, essa cobertura atingia somente 3% dos depósitos, de modo que 97% dos clientes do banco perderiam dinheiro com a falência do SVB.

Para evitar um contágio em massa, o Tesouro dos EUA, junto com o FDIC e o banco central (Fed), decidiram cobrir todos os depósitos do banco. Na prática, os reguladores ignoraram o limite do FDIC e resgataram todos os clientes. Mas os acionistas do banco não receberam auxílio nem resgate, de acordo com o governo.

As lições das crises

O confisco brasileiro e a crise dos bancos nos EUA mostram que nenhum sistema atual, por mais seguro que pareça, é totalmente imune a crises. Mas hoje em dia, ao contrário dos brasileiros dos anos 1990, o mundo possui uma ferramenta de proteção contra essas crises: o Bitcoin.

Não foi à toa que enquanto as ações dos bancos de menor porte dos EUA chegaram a cair 70% ou até 80%, as criptomoedas foram no caminho inverso. Após o anúncio do resgate, o Bitcoin valorizou quase 20% e voltou ao patamar dos US$ 24 mil. Até o momento, esta foi a maior valorização do BTC em um dia em 2023.

Uma das lições desta crise é que ninguém jamais deve confiar todo o seu dinheiro aos bancos. Mesmo que a pessoa diversifique seus depósitos em mais de um banco, uma crise sistêmica ainda pode comprometer todo o sistema, causando prejuízos enormes.

Por fim, a lição mais importante é ter ativos que estão longe da influência de algum governo, como o próprio Bitcoin, e investir na diversificação geográfica em várias jurisdições. Dessa forma, o capital estará protegido contra eventuais crises que possam atingir mais uma economia do que outra.

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