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BRC-20, tokens-meme e a explosão de taxas do Bitcoin

Na semana passada, a rede do Bitcoin (BTC) foi atingida em cheio por um verdadeiro congestionamento de transações. Como resultado, o custo de enviar BTC cresceu quase 400% e atingiu os maiores valores desde a famosa Guerra dos Blocos de 2017 – um tema que merece um texto extra.

Apesar desse congestionamento ter diminuído ao longo dos dias, o preço médio de uma transação de alta prioridade ainda está acima dos US$ 3,00 de acordo com o site Mempool.space. Portanto, caro o bastante para inviabilizar transações de menor valor.

Por causa dessa disparada nas taxas, os mineradores passaram a coletar cada vez mais recursos e lucrar mais. De fato, em vários blocos, o valor das taxas de transação chegou a superar o valor da recompensa da mineração, algo muito raro de acontecer.

Dois fatores são responsáveis pelo aumento nas taxas de transação do BTC: a chegada dos tokens BRC-20 e a proliferação da criação de “tokens-meme” no Bitcoin. Este texto vai explicar o que são esses tokens e também como as taxas podem beneficiar os mineradores – e como evitar pagar valores mais altos.

O Taproot

Um novo tipo de token que circula no Bitcoin tomou a rede de assalto em 2023. Os BRC-20, criados por um desenvolvedor pseudônimo conhecido como “Domo”, permitem a criação de novas funcionalidades dentro da blockchain.

Quando o Bitcoin surgiu em 2009, sua principal (e única) funcionalidade era permitir aos usuários enviar e receber dinheiro. Mas para outras aplicações, o Bitcoin era muito limitado e até inútil. De fato, foi esta limitação que levou Vitalik Buterin a criar a rede Ethereum, que possui muito mais funcionalidades.

No entanto, o Bitcoin recebeu uma importante atualização em 2021 chamada Taproot, que expandiu as possibilidades de uso da rede. Com esta atualização, a blockchain conseguiu reunir capacidade para inserir pequenos dados nos satoshis, a menor unidade do BTC.

Essa “brecha” no Taproot permitiu criar e executar aplicações que o Ethereum também faz, como a criação de tokens e NFTs. Baseado nesta atualização, o Bitcoin recebeu dois importantes protocolos em 2023: o BRC-20 e o Ordinals. 

Ordinals

O primeiro protocolo a surgir foi o Ordinais, que aproveita essa brecha para inserir pequenos dados em satoshis do BTC. Criado por Casey Rodarmor no início de 2023, o protocolo adiciona uma sequência numérica a cada satoshi ordenando-os na ordem em que são minerados – daí o nome Ordinals.

Dessa forma, cada satoshi ganha uma numeração exclusiva, bastante similar a um NFT. Em seguida, usuários podem inscrever dados nos satoshis ocupando uma transação cuja capacidade é de até 4 megabytes (MB). Os satoshis conseguem receber os seguintes dados:

  • fotos;
  • músicas;
  • textos;
  • vídeos;
  • imagens digitais.

No Ethereum, os usuários costumam criar protocolos e camadas próprias, que podem ter problemas de segurança. Já no Ordinals, por outro lado, os dados dos satoshis são gravados direto na blockchain, o que fornece um alto grau de imutabilidade e segurança na transação.

BRC-20

Os tokens BRC-20, por sua vez, são o tipo específico de token que utilizam os Ordinals. Assim como no padrão ERC-20 no Ethereum, esses tokens podem representar qualquer coisa, de vídeos a NFTs e até tokens-meme.

Tokens-meme são tokens que não possuem qualquer valor ou utilidade, são criados com base numa piada da Internet. No mundo das criptomoedas, tokens como Dogecoin (DOGE), Shiba Inu (SHIB) e Pepecoin (PEPE) são exemplos de tokens-meme.

Com o Ordinals, a mania dos tokens-meme também atingiu o Bitcoin por meio dos tokens BRC-20. De acordo com o site brc-20.io, existem mais de 24 mil tokens desse tipo na rede, com um valor de mercado estimado em quase US$ 500 milhões. O maior deles é o ORDI, token que possui US$ 342 milhões em valor.

BRC-20 enriquece mineradores

Conforme explicado anteriormente, os tokens BRC-20 são gravados direto na blockchain do Bitcoin. Por isso, eles utilizam espaço nos blocos destinado para as transações normais da rede.

Só que cada transação no Ordinals pode movimentar até 4 MB, enquanto o tamanho médio de um bloco é de 1 MB. A atualização SegWit, lançada em 2017, expandiu essa capacidade sem aumentar o tamanho dos blocos, mas a alta demanda do Ordinals foi demais para a rede.

Por isso, o espaço que os tokens ocuparam fez com que o preço das taxas disparasse. Na semana passada, a média de taxa por transação alcançou US$ 30, uma alta de quase 2.000% em relação aos valores registrados no início de abril (US$ 1,51), como resultado do alto número de transações do Ordinals registradas na rede.

Além disso, o alto volume de taxas fez com que se formasse uma fila enorme de transações. Essa fila chegou a superar 400 mil transações na quinta-feira (11) e reduziu para 277 mil nesta terça-feira (16), o que ainda é um valor elevado de transações em espera.

Esse movimento prejudicou vários usuários que não conseguiram enviar BTC por causa dos altos valores. Mas quem se beneficiou foram os mineradores, que viram o valor de taxas de transação pago nos blocos disparar e atingir US$ 67 mil em 10 de maio, o maior valor desde os US$ 75 mil registrados em 25 de abril de 2021.

Em alguns blocos, o valor das transações chegou a superar 6,25 BTC, que é o valor atual da recompensa que os mineradores recebem. Isso aconteceu em 8 de maio, quando um minerador recebeu mais de 12,5 BTC como recompensa.

Como evitar as altas taxas

Se você pretende utilizar o Bitcoin e não quer pagar as taxas elevadas, existem algumas maneiras de fazer isso. A mais fácil delas é utilizar a Lightning Network, rede de segunda camada que permite transações a custos muito baixos.

Com a Lightning, enviar BTC custa míseros centavos e reduz drasticamente os custos de transação. Porém, a carteira de destino também deve contar com um endereço Lightning para que a transação possa ocorrer.

Outra opção é reduzir a prioridade de envio dos BTC, sobretudo se o destinatário não tiver pressa em receber. A rede do Bitcoin possui níveis de prioridade que tornam a transação mais cara conforme a sua rapidez. 

Nesse sentido, uma transação de alta prioridade que chegará no bloco seguinte (cerca de 10 minutos) custa mais do que uma transação de baixa prioridade (seis blocos, ou cerca de uma hora). Por isso, reduzir a prioridade pode diminuir os custos de transação em até 80%.

Por fim, o alto custo não significa que o Bitcoin morreu nem que ele se tornará inútil, mas sim que a demanda pelo seu uso aumentou. E quando a rede se estabilizar, as taxas devem voltar a cair para os níveis normais de operação.

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