Em 3 de janeiro de 2009, Satoshi Nakamoto finalmente lançou a versão 0.1 de sua aguardada invenção, o Bitcoin. Anunciado pouco mais de dois meses antes por meio da criação de seu white paper, o lançamento do bloco-gênese marcou a realização prática do que até então era somente um conceito.
Minerado exatamente às 15h15m05 (horário GMT), o bloco-gênese trouxe ao mundo os primeiros 50 Bitcoins – essa era a recompensa pela mineração na época. Além disso, o bloco trouxe uma manchete do jornal The Times daquele mesmo dia 3, que confirmou a autenticidade do bloco através da blockchain. Como resultado, tanto a manchete quanto o jornal em si viraram itens de colecionadores entre os bitcoiners entusiastas da criptomoeda.
Portanto, o Bitcoin completa exatamente 14 anos nesta terça-feira, 3 de janeiro de 2023. Ou seja, um adolescente que está começando a descobrir seu verdadeiro caminho, mas que conta com números de fazer inveja a qualquer adulto.
E é com essa analogia ao desenvolvimento de uma criança que vamos entender melhor pelo que o Bitcoin passou e até onde ele ainda pode crescer.
Uma infância problemática
Os primeiros anos de vida do Bitcoin, a sua “infância”, não foram exatamente os mais fáceis. Isso porque pouco depois de completar um ano, uma falha que gerou a emissão de 184 bilhões de Bitcoins, quase destruindo o projeto. Somente o alerta da comunidade e a intervenção de Satoshi salvaram o projeto.
Em seus primeiros três anos, o Bitcoin era visto como um filho feio até mesmo entre os próprios cypherpunks, “família” na qual ele nasceu. Somente poucos pais, entre eles Satoshi e Hal Finney (que morreu em 2014), ousaram o suficiente para assumir sua paternidade e ainda proclamar: “este garoto será o orgulho da família inteira”.
Para horror dos “primos” cypherpunks, Satoshi e Finney acertaram, pois o Bitcoin superou a rejeição e os problemas de infância para se tornar a criança prodígio do grupo. Com apenas quatro anos ele já corria a maratona dos US$ 1.000, recorde que atingiu no final de 2013.
Mesmo com a perda de um de seus principais lares – a exchange Mt. Gox, que faliu em 2014 – o Bitcoin não ficou abandonado. Ao contrário, a criptomoeda ganhou uma comunidade de centenas de pais adotivos que o acolheram e o protegeram, mas sem deixar de estimular a sua independência.
Três anos depois, em 2017, parte desses “pais” quiseram transformar o Bitcoin em uma criança mimada que pensa que o mundo gira ao seu redor. Ao invés de ensinar-lhe que regras existem e devem ser respeitadas, esses pais preferiram mudar as regras ao seu bel-prazer e sem respeito com os demais.
Felizmente, os verdadeiros pais do Bitcoin conseguiram tirar essa ideia da cabeça do garoto e incutir o respeito às regras e a necessidade de transmitir segurança e confiança aos seus semelhantes. Como resultado, o garoto Bitcoin saiu dessa mais forte e voltou a quebrar recordes na maratona, dessa vez nos US$ 20.000.
Adolescente com números de adulto
Mais cinco anos depois, o Bitcoin não é mais uma criança. Entretanto, não é um adulto tampouco. É um adolescente e, como muitos nessa fase, também enfrenta seus problemas de identidade.
Por exemplo, o Bitcoin quer ser uma reserva de valor ou um meio de pagamento? Ficar restrito ao círculo de nerds ou ganhar os índices dos grandes mercados? Ele escolheu os quatro caminhos, e se deu bem em todos eles.
Somente em 2022, ano do seu 13º aniversário, o Bitcoin voltou a se valorizar, quebrar recordes e chegar a quase US$ 70.000. Ao mesmo tempo, sua rede processou a incrível marca de US$ 100 trilhões em pagamentos, quase cinco vezes mais do que o PIB dos Estados Unidos.
No mesmo ano, grandes empresas passaram a olhar para o BTC como uma forma de diversificar seu caixa. A MicroStrategy foi a primeira a enxergar valor no adolescente rebelde e o trouxe para seu convívio, onde virou o garoto de ouro do fundador Michael Saylor. Por outro lado, o Bitcoin seguiu com seu ethos de rebeldia, estimulando um verdadeiro ecossistema de liberdade na criação de aplicações descentralizadas.
A Lightning Network cresceu, chegando ao recorde de 5.000 Bitcoins de capacidade e se mostra uma alternativa viável aos pagamentos tradicionais. O Bitcoin, dessa forma, continua desafiando os bancos, mas também caiu nas graças de muitos deles. Gestoras começaram a criar fundos de investimento em blockchain, criptomoedas, DeFi, NFTs e, claro, em Bitcoin. Se não pode enfrentar os adolescentes, junte-se a eles.
Tombos e aprendizados
É claro que nesse meio-tempo o Bitcoin também se rebelou. Ele ainda é instável e, como todo adolescente, gosta de pregar sustos em quem confia nele. O maior desses sustos foi ir com muita sede ao pote e levar uma queda feia – especificamente, de 74,98%.
Além disso, muitos dos pais adotivos do Bitcoin o deixaram andando na companhia de elementos duvidosos, que levaram a criptomoeda para maus caminhos. Esses Bitcoins, especificamente, se desviaram, deixando seus pais desesperados em busca de seu paradeiro. Muitos Bitcoins se perderam nas Alamedas da vida, enquanto outros FTX (Foram Trocar Xaveco, na gíria adolescente) e se vislumbraram, ficando nas mãos de irresponsáveis e até de criminosos.
Como todo adolescente, o Bitcoin sofreu. Muitos inocentes pagaram pela má fama dos culpados. Mas aquelas características do menino-prodígio continuam ativas no adolescente Bitcoin, e muitas até melhoraram com o tempo. Longe de ser um garoto problema, o Bitcoin é na verdade um garoto solucionador de problemas.
Feliz aniversário, jovem gênio! E que muitas felicidades e realizações lhe acompanhem nos próximos 14 anos.