O ano de 2022 já teria emoções superiores a um ano comum; afinal, estamos falando de ano de Copa do Mundo e de uma das eleições mais acirradas da história do Brasil. Mas este ano também foi emblemático para o Bitcoin (BTC) e o mercado de criptomoedas como um todo.
A partir do segundo trimestre do ano, os investidores do mercado começaram a se deparar com cenários até então inéditos. Tanto o cenário macroeconômico quanto o mercado de criptomoedas passaram por grandes solavancos, falência e casos que entraram para a história.
Consequentemente, o preço do BTC caiu vertiginosamente e, pela primeira vez, ficou abaixo de um importante indicador. Mas ao contrário das empresas que faliram, a rede do Bitcoin está cada vez mais forte e se consolidou como a maior e mais segura de todo esse mercado.
Portanto, o texto de hoje vai trazer um balanço do que foi 2022 para os mercados e de quais formas isso impactou o preço do BTC. E claro, quais são as perspectivas em relação ao que acontecerá no ano que vem.
O colapso da LUNC
Olhando em retrospectiva, é possível remontar toda a origem do atual cenário das criptomoedas a uma só data: 12 de maio de 2022. Naquela ocasião, a Terra, um dos maiores ecossistemas blockchain do mercado, começou a entrar em colapso total, fazendo mais de US$ 40 bilhões desaparecem em poucos dias.
Até meados deste ano, a então rede LUNA estava entre as dez maiores blockchains do mundo em valor de mercado. Sua stablecoin TerraUSD (UST) era a terceira mais utilizada, perdendo apenas para a USDT e USDC. E de quebra, a Terra Foundation havia decidido comprar BTC para dar lastro à sua stablecoin.
No entanto, o que a Terra montou era um castelo de cartas montado em bases frágeis. Lastrear a UST em BTC mostrou-se um erro conforme o preço da criptomoeda líder caía, levando os investidores a duvidarem da força da stablecoin. Diante disso, começaram a aparecer vendas em massa de UST no mercado, com investidores testando a disposição da Terra em defender sua moeda.
Conforme o preço da UST caía, a Terra teve que encarar a realidade e vender BTC para conseguir dólares e tentar manter o valor de sua stablecoin. Só que a decisão não teve o resultado esperado: o preço do BTC caiu com a pressão de venda e a UST perdeu a paridade com o dólar e entrou em colapso.
Eventualmente, a blockchain Terra sofreu uma divisão (hard fork) e se dividiu em duas: a rede original, que ganhou o nome de Terra Classic (LUNC), e uma nova rede que manteve o nome Terra (LUNA).
A guinada aos céus do Fed
Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Portugal – todos esses países registraram os maiores recordes de inflação nos últimos 40 anos. A chamada “inflação transitória” propagandeada pelos bancos centrais veio para ficar, e junto com a guerra na Ucrânia afetaram o custo de vida em todo o planeta.
Uma das maiores teses do BTC é que ele é um ativo de proteção contra períodos inflacionários, dado que sua oferta é fixa e nenhum banco ou governo pode emitir mais BTC. Essa tese se provou bem sucedida em 2020 e 2021, quando o BTC atingiu seu auge enquanto a inflação começava a acelerar na Europa e nos EUA.
Mas conforme a alta no custo de vida crescia, os governos começaram a aumentar as taxas de juros para tentar controlar a inflação. O Federal Reserve (Fed) iniciou seu ciclo de aumentos em 2022 e desde então já fez seis elevações na taxa básica de juros, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) começou mais tardiamente, elevando os juros duas vezes em 2022.
Com juros mais altos na renda fixa americana, os investidores tendem a migrar de ativos de risco para a segurança dos títulos do governo. Logo, os investimentos mais arriscados tendem a sofrer maiores perdas – como é o caso do BTC, que teve fortes correções a cada novo aumento de juros.
Colapso da FTX
O fim da blockchain Terra afetou severamente diversas empresas, que ficaram sem liquidez para honrar com suas operações. Muitas faliram enquanto outras simplesmente bloquearam o dinheiro dos seus clientes, limitando ou proibindo-os de fazer saques.
Mas a grande surpresa do mercado foi a queda da FTX, que era a terceira maior exchange do mundo. A plataforma foi acusada de realizar fraudes em seu balanço e se alavancar dando como garantia apenas o seu token FTT, que perdeu 95% do seu valor em pouco menos de 15 dias.
Além disso, a FTX também teria realizado operações de financiamento controversas com a Alameda Research, sua empresa-irmã, utilizando dinheiro de seus clientes. Quando o colapso ocorreu, a exchange não tinha fundos para pagar aos clientes e resolveu bloquear os saques, fazendo muitas pessoas perderem as economias de uma vida inteira.
O que teremos em 2023?
Esses três eventos sem dúvidas contribuíram para a debacle no preço do BTC, que depois de atingir sua máxima histórica a quase US$ 70 mil em novembro, abriu 2022 valendo perto de US$ 50 mil. No entanto, os eventos do mercado causaram uma desvalorização de 66% apenas esse ano, levando o BTC para mais próximo do patamar atual de US$ 17 mil.
Mas se o preço do BTC caiu, os indicadores de fundamentos e de aceitação global se mantiveram em alta. O poder de processamento da rede do Bitcoin, medido pelo seu hash rate, atingiu patamares de alta históricos, ou seja, a rede está cada vez mais segura contra qualquer tipo de ataque.
Em termos de adoção institucional, os investidores estão cada vez mais propensos a tornar o BTC parte de seus portfólios. Mais empresas passaram a comprar a criptomoeda como forma de reserva, e gestoras como a Fidelity Investments abriram a possibilidade de fundos de pensão alocar parte de seus recursos em BTC.
Por outro lado, o BTC se consolidou como uma ferramenta real e muito mais eficiente para transferir valor. Apenas em 2022, a rede do Bitcoin já transacionou mais de US$ 17 trilhões de dólares, ou cerca de 73% do PIB dos EUA em termos nominais.
E neste ano ainda tivemos o segundo país do mundo a aceitar o BTC como moeda oficial: a República Centro Africana (RCA), que se junta a EL Salvador neste seleto grupo de nações.
Sobre o preço
Atualmente, o preço do BTC parece ter encontrado um fundo na região pouco abaixo dos US$ 16 mil. Esta região sofreu vários testes de suporte e conseguiu resistir, o que parece um comportamento de consolidação.
No entanto, os momentos de queda do BTC costumam ser sucedidos de correções que podem superar os 84%. Levando em conta o preço atual e a máxima histórica, a correção do BTC chegou aos 75%, o que indica que tem mais espaço para quedas.
Com base no histórico, o preço do BTC poderia cair até a região de US$ 11 mil, mas não há garantias de que isso acontecerá. Afinal, a criptomoeda tem um histórico de apenas 14 anos, no qual muita coisa pode acontecer.
Por ser um ano pré-halving (halving é o evento onde a emissão de BTC cai pela metade), o ano de 2023 tende a se parecer com o ano de 2019 – que precedeu o halving de 2020. Ou seja, um ano com poucas oscilações de preço e com mais oportunidades para acumular BTC pensando na valorização que pode ocorrer pós-halving a partir de 2024.
Em suma, o ano de 2022 foi um ano de grandes desafios para o BTC, mas que serviu para a rede mostrar sua força e que não depende de empresas ou exchanges para crescer. E como um bom analista de valuation diria, agora temos um ativo ainda mais forte e com fundamentos melhores a um preço 75% descontado, abrindo uma oportunidade valiosa para presentear a si mesmo e a alguém neste Natal.