O baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas no Brasil voltou ao noticiário em 2021 e está provocando uma série de consequências para a economia.
De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis pela geração de 70% da energia do país, operavam com apenas 16,54% da capacidade na última atualização, feita no dia 5 de outubro.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o Brasil vive sua pior crise hídrica dos últimos 91 anos – ou seja, a situação é considerada mais delicada do que em 2001, ano marcado por outra grave crise energética que culminou em racionamento de energia e provocou apagões pelo país.
A crise no setor elétrico já provoca inúmeros efeitos negativos na economia. Um dos principais é o aumento da inflação, influenciada em grande parte pelo aumento no preço das contas de luz.
Para complementar o fornecimento de energia e suprir a demanda, o governo precisa utilizar fontes de energia alternativas. As principais são as termelétricas, usinas movidas a carvão que possuem um custo maior na produção de energia, além de causarem um grande impacto ambiental.
O Ministério de Minas e Energia estima que, este ano, o acionamento de termelétricas resultará em um custo de R$ 9 bilhões ao consumidor.
No final, quem paga essa conta é o consumidor. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o preço da energia elétrica acumula alta de 21,08% em 12 meses até agosto. No acumulado do ano, a alta foi de 10,61%.
Mas é importante destacar que estes números ainda não consideram o último aumento anunciado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e que passou a valer no dia 1º de setembro. A nova modalidade de bandeira tarifária, intitulada “Escassez Hídrica” acrescentou o valor de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos a partir do início do mês passado e terá validade até 30 de abril de 2022.
De acordo com estimativas do Ministério de Minas e Energia, esta nova bandeira deverá gerar um aumento de 6,78% na tarifa de luz para os consumidores.
“A crise hídrica consolidará o setor de energia como principal vetor da inflação em 2021”, afirmam os economistas da FGV (Fundação Getulio Vargas), em relatório.
Mais efeitos
Um estudo da RPS Capital, elaborado pelos economistas Gabriel Barros e Gustavo Fabrício, estima que a crise hídrica pode adicionar até um ponto percentual na inflação de 2021 e reduzir até 2,1% do PIB (Produto Interno Bruto).
Segundo o levantamento, o aumento das bandeiras tarifárias terá um custo estimado de R$ 13 bilhões este ano e deverá afetar ainda a inflação também no ano que vem.
Além do consumidor final, que precisa arcar com uma conta de luz cada vez mais cara, os pequenos empresários também sofrem com o aumento no preço da energia.
Um levantamento realizado pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) mostra que a conta de energia representava 15% dos custos operacionais das micro e pequenas empresas em 2019. Desde 2020, este gasto já passou a ser a principal despesa para 28% dos pequenos empreendedores.
De acordo com o levantamento, os setores que usam máquinas e equipamentos na produção, especialmente na pequena e média indústria, tendem a ser os mais afetados.
Uma outra pesquisa, realizada em junho pelo Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi) mostra que 62% das micro e pequenas indústrias paulistas arcaram com aumentos sucessivos em suas contas de energia elétrica ao longo de 2021, sendo que em maio, a proporção de empresas que relataram esse problema era de 51%.
Apagão e racionamento
Um estudo da XP Investimentos afirma que a chance de o país sofrer com apagões de energia existe. Segundo a equipe, a menor geração hídrica no Sudeste exige trazer mais energia das regiões Norte e Nordeste, o que coloca mais pressão no sistema de transmissão e exige uma operação com menos backups para atender a demanda de energia.
“Isso significa que o sistema ficará mais vulnerável à distúrbios como incêndios florestais, tempestades e falhas humanas”, afirmam os analistas, que também estimam em 12,1% a possibilidade de racionamento de energia nos próximos 12 meses.