Ao mesmo tempo que terminamos o ano de 2022 com certo amargor pela notícia de que “Marte Um”, de Gabriel Martins, não foi citado na shortlist da vaga ao Oscar de melhor filme internacional, talvez boas notícias vindo do nordeste nos tragam certa esperança.
“Sideral”, filme do diretor Carlos Segundo, está entre os concorrentes à vaga de melhor curta- metragem no Oscar 2023.
A ficção conta a história de uma faxineira que se esconde dentro do primeiro foguete brasileiro a ser lançado para o espaço. De forma calma e astuta, o filme nos tece fatias da vida e do entorno que cerca a protagonista, além de mostrar as reverberações de seu ato dentro do âmago familiar.
O filme já passou por mais de 100 festivais e 60 prêmios, incluindo a exibição no Festival de Cannes.
No podcast O2Cast, um excelente programa quando o assunto é cinema brasileiro contemporâneo, Carlos afirma que seu objetivo é realizar um filme por ano, seja ele curta ou longa-metragem. Este número, principalmente quando estamos falando de realização no Brasil, com todos os desafios logísticos e financeiros de se rodar no país, é bastante expressivo.
Não surpreendentemente, o filme subsequente de Carlos, “Big Bang”, já realiza um caminho muito interessante por festivais internacionais, tendo sido selecionado recentemente para o festival de Clermont-Ferrand, na França, considerado um dos maiores festivais de curtas do mundo (se não o maior).
O longa conta a história de Chico, um homem com nanismo cujo emprego é, de acordo com ele, “destruir tudo em que pode entrar”.
Ao meu ver, uma das grandes virtudes de Carlos é demonstrar com força e consistência que a potência de um filme não diz respeito unicamente à sua duração, mas sim à qualidade da história. Com temas provocativos, mas sempre cercados de paixão e sensibilidade, o diretor desenvolve uma visão autoral única, que é rica e singular no contexto cinematográfico nacional.
Como já mencionei no artigo sobre “Marte Um”, a nomeação de um filme para o Oscar diz respeito muito mais à campanha do que à qualidade estética do filme em si.
“Sideral” é o único filme latino-americano na competição, e tem sido distribuído pela empresa francesa Les Valseurs e pela brasileira Casa de Praia.
A distribuidora, junto de Carlos, tem feito um trabalho muito interessante de divulgação do filme nas redes sociais, além de, como já é de praxe, o envio de materiais do curta-metragem para a imprensa e membros votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação mais cobiçada da Terra. Outro fator relevante foi a matéria da revista Variety, que citou “Sideral” na lista das apostas para a competição de curtas dentro do Oscar.
O trabalho de Carlos é consistente e reconhecido internacionalmente, e o filme apresenta temas interessantes e globais, que podem sim chamar a atenção da comunidade de membros votantes da premiação. Agora, só nos resta esperar e torcer para que “Sideral” seja, de fato, reconhecido pela Academia, levando o cinema brasileiro para os voos altos que merece.
Confira o teaser do curta “Sideral”:
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