De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgada hoje (6) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), entre os brasileiros com até 10 salários de renda mensal, 34,1% atrasaram dívidas. Esta é a maior proporção da série histórica, iniciada em 2010.
O estudo apontou que 30,3% das famílias brasileiras têm alguma dívida em atraso, pois não conseguiram pagar dentro do vencimento. No intervalo de um ano, a inadimplência avançou 4,2 pontos percentuais, atingindo principalmente os que têm menor renda.
“Os orçamentos das famílias de menor renda seguem apertados porque os juros altos aumentam as despesas financeiras associadas às dívidas em andamento. Com maior nível de endividamento, está mais difícil pagar todos os compromissos em dia, contas de consumo e dívidas”, explicou Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa.
Dessa forma, o volume de consumidores que revelaram não ter condições de pagar dívidas já atrasadas de meses anteriores cresceu em novembro, atingindo 10,9% do total de famílias. Entre as com menores rendimentos, o indicador manteve trajetória de alta, atingindo 13,4% das famílias.
Aumento do número de inadimplentes há mais de 3 meses
Das famílias inadimplentes, 42,5% estão com atrasos acima de três meses, um aumento mensal de 0,6 ponto percentual e de 1 ponto percentual no comparativo anual.
“Não à toa, o spread bancário, que é a diferença entre os juros que os bancos cobram nos empréstimos e os recebidos ao captar recursos de investimentos, chegou ao maior nível desde julho de 2019, 44,4 pontos percentuais, conforme dados de outubro do Banco Central”, explicou Izis.
Segundo a economista, o valor auferido do spread é utilizado pelas instituições financeiras para cobrir, entre outros gastos, as despesas com inadimplência, que vem sendo revistas para cima pelas empresas que operam crédito no país.
Comprometimento da renda com dívidas
Houve aumento na quantidade de consumidores com mais da metade da renda comprometida com o pagamento de dívidas. No mês passado, esse valor alcançou 21,6% do total de endividados, um crescimento anual de 0,8 p.p.
“Em média, o brasileiro precisou gastar 30,4% de toda a sua renda apenas para pagar dívidas em novembro, isso sem contar os serviços e as contas de consumo como água, energia, telefone, gás, entre outras. Ou seja, a cada R$ 1.000 do rendimento, em média R$ 304 estão comprometidos com dívidas.”, avaliou Izis Ferreira.
Queda da proporção de endividados
Por outro lado, o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer recuou 0,3 ponto percentual em novembro, alcançando 78,9% do total.
Porém, na comparação com novembro do ano passado, a proporção de endividados avançou 3,3 pontos percentuais, mas em uma dinâmica de desaceleração. Essa taxa anual é a menor desde junho de 2021.
A desaceleração da proporção de endividados é explicada pela evolução positiva do mercado de trabalho, pelas políticas de transferência de renda mais robustas e queda da inflação nos últimos meses. Na visão de José Roberto Tadros, presidente da CNC, esse conjunto de fatores resultou no aumento da renda disponível.
“Mesmo com o cenário de melhoria do mercado de trabalho, os consumidores seguem cautelosos quanto à contratação de novas dívidas neste fim de ano, tanto pelo alto índice de endividamento e comprometimento da renda quanto pelos juros, que seguem altos”, apontou Tadros.
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