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Investir apenas no Brasil é um risco desnecessário, afirma criador do Canal do Holder

Por:
Diego Lazzaris
Maria Antônia Anacleto

A situação atual do país, com muitas incertezas em relação à condução da política econômica e fiscal no novo governo, aumenta o risco dos ativos brasileiros na opinião de especialistas. Diante deste cenário, é importante diversificar as aplicações geograficamente, investindo principalmente em países como os Estados Unidos.

“Na minha avaliação, é um risco desnecessário manter os investimentos 100% concentrados no Brasil”, afirma Fabio Faria, criador do Canal do Holder.

Também conhecido pelo apelido de Fabio Holder, o especialista argumenta que investir mercados mais desenvolvidos ficou ainda mais fácil nos últimos anos. “É tão simples acessar outros mercados, como o norte-americano e o europeu. São países desenvolvidos, que têm uma economia e uma democracia muito mais consolidada do que a nossa”, afirma.

Fabio Faria, analista de Investimentos (CNPI) e educador financeiro. Fonte: Instagram/reprodução

Segundo ele, a maior parte dos investidores pode começar uma exposição global aos poucos, aumentando gradualmente com o passar do tempo. “Se a pessoa ainda não investe, talvez começar com 5% do patrimônio, depois passar para 10% e 20%, até chegar num percentual que se sinta confortável”, afirma.

Veja abaixo alguns trechos da entrevista:

No cenário atual, de incertezas fiscais e indefinição da equipe econômica, como está a sua visão para o investimento em bolsa no Brasil?

O Brasil vive uma dicotomia. Se o país der certo, a Bolsa com certeza vai performar muito bem, porque os múltiplos do Ibovespa estão em uma mínima histórica de 20 anos. Só que todo esse desconto está associado a uma grande incerteza. E um dos principais riscos para os investidores de longo prazo vem principalmente da parte fiscal, que é uma grande incógnita atualmente.

Vemos o governo eleito propondo retirar a regra de ouro, que está prevista na Constituição, através de PEC. O furo no teto de gastos também gera inflação e aumento de juros no longo prazo, fazendo a nossa dívida ficar ainda mais cara.

Historicamente, tivemos períodos muito conturbados aqui no Brasil, como a Ditadura Militar e a hiperinflação. O país já passou por muita coisa e sobreviveu.

No entanto, é um risco desnecessário para o investidor ficar 100% concentrado no Brasil. É tão simples acessar outros mercados, como o norte-americano e o europeu. São países desenvolvidos que têm uma economia e uma democracia muito mais consolidada do que a nossa.

Não vejo motivo para não ter uma parcela do patrimônio investido lá fora. Se a pessoa ainda não investe, talvez começar com 5% do patrimônio, depois com 10%, 20%, até chegar em um percentual que se sinta confortável.

Outro ponto muito importante é que o mercado brasileiro de ações representa apenas 1% de todo o mercado mundial, enquanto os Estados Unidos detêm cerca de 50%. Ao investir em ações nos EUA, o investidor acessa o maior mercado do mundo e tem acesso a toda economia global.

Também é importante lembrar que o custo está muito baixo, mas isso pode mudar em um período relativamente curto, com uma simples “canetada”. O único imposto que temos para mandar o dinheiro para fora é a alíquota de IOF de 0,38% sobre o valor que está sendo enviado.

Existe um “momento certo” para investir no exterior?

Acredito que é sempre momento para investir. A melhor solução para os investidores é montar uma carteira de acordo com seus objetivos pessoais e com seu perfil de risco. Levar em consideração seu momento de vida é extremamente importante para você começar a responder a essas perguntas.

O investidor prudente está sempre se perguntando quanto de risco ele pode correr, para então pensar em quanto que ele vai ter de retorno. A maioria das pessoas que estão começando só olham o retorno, mas não entendem os riscos por trás de cada uma das alocações. É preciso ficar atento em relação a isso.

Uma vez que o investidor definiu qual será a sua alocação macro, ele seleciona os ativos que vão compor essas “caixinhas”, podendo fazer isso através de ETFs ou de investimentos diretos nos ativos. Ao longo do tempo, ele vai ajustando a exposição com base na performance de cada classe de ativo.

O apelido “holder” mostra sua preferência em comprar ações para o longo prazo. Qual a estratégia por trás disso?

O investidor pessoa física tem uma vantagem muito grande frente a um investidor institucional: normalmente essas pessoas têm uma disponibilidade de recursos mensalmente, assim que recebem o salário ou os lucros da empresa, no caso dos empreendedores.

Essas pessoas que possuem eventos de liquidez com uma certa frequência podem investir sempre. Os aportes constantes fazem muito mais sentido no longo prazo do que os aportes não regulares, daqueles que tentam acertar o timing de mercado.

Tem um estudo interessante do professor Robert Shiller, economista que ganhou o Prêmio Nobel. Ele simulou desde a década de 1970 até hoje a performance de um investidor que aplicou US$ 100 todos os meses em ETFs e comparou com alguém que tentou adivinhar quando a bolsa iria cair, comprando apenas nas supostas mínimas.

O estudo mostrou que o investidor que comprava ETFs todos os meses terminou com o dobro do patrimônio do investidor que comprava ações apenas tentando encontrar os “fundos”. Isso acontece porque a pessoa que manteve a aplicação aproveitou todos os grandes ciclos de alta da bolsa.

Entre em contato com a redação Money Crunch: imprensa@moneycrunch.com.br

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