No mês de agosto, o índice de inflação da cesta básica caiu 1,88%, depois de registrar alta de 2,56% em julho, conforme um estudo de professores do curso de economia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
A baixa de agosto é a maior registrada em um ano pela pesquisa. A série histórica começou a ser feita em setembro de 2021. Porém, mesmo com a trégua, a cesta básica ainda acumulou alta de 25,9% em 12 meses até agosto – o avanço era de 30,01% até julho.
O resultado mostra uma alta de preços muito acima da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Até agosto, o indicador subiu 8,73%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em agosto, o preço da cesta básica diminuiu em 16 das 17 capitais contempladas por levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
As reduções mais expressivas ocorreram em Recife (-3%), Fortaleza (-2,26%), Belo Horizonte (-2,13%) e Brasília (-2,08%). A única alta, de 0,27%, foi verificada em Belém.
Entre os dados de inflação de 13 alimentos que compõem o IPCA – utilizados como base no estudo -, nove recuaram em agosto.
As quedas foram registradas por tomate (-11,25%), batata-inglesa (-10,07%), óleo d soja (-5,56%), feijão-carioca (-5,39%), leite longa vida (-1,78%), açúcar cristal (-1,72%), contrafilé bovino (-1,29%), café (-0,50%) e arroz (-0,42%).
Os outros quatro produtos da cesta seguiram em alta no mês passado. A farinha de mandioca (1,43%) teve a maior elevação, seguida por banana prata (1,42%), pão francês (1,12%) e margarina (1,08%).
Segundo Jackson Bittencourt, coordenador do curso de economia da PUCPR, uma combinação de fatores gerou alívio para a cesta em agosto.
Parte dos alimentos engatou uma sequência de fortes altas no primeiro semestre, e era esperado que o movimento perdesse ímpeto, apontou o professor.
A produção também foi influenciada por melhores condições climáticas, enquanto a baixa dos combustíveis atenua custos de transporte.
“Estamos saindo da entressafra, que impactou produtos como o leite, e o clima melhorou. Também vemos os combustíveis com redução de preços. É um processo de desinflação.”, explicou o professor da PUCPR.
Contudo, Bittencourt ressaltou que esse movimento não significa que a comida esteja barata. Sinal disso é que, em 12 meses até agosto, o leite acumulou disparada de 60,81%, a maior da cesta básica.
Café (46,34%), banana prata (31,07%), batata-inglesa (25,12%), margarina (24,19%) e feijão-carioca (22,67%) vieram na sequência. As únicas quedas no acumulado foram registradas pelo tomate (-8,18%) e pelo arroz (-6,36%).
Até o fim do ano, a inflação da cesta básica tende a ter novos sinais de trégua, na esteira das melhores condições climáticas para a produção e da baixa dos combustíveis.
Bittencourt pontuou que a ampliação do Auxílio Brasil às vésperas das eleições pode aquecer a demanda por alimentos e gerar um efeito contrário, tornando mais lento o processo de desinflação.
“É um olhar que precisa ser feito. Com uma pressão de demanda, os preços podem demorar mais para diminuir”, disse o economista.
Segundo uma pesquisa da Asserj (Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro), carne bovina e leite são os principais produtos que o público do Auxílio Brasil deixou de comprar e pretendia voltar a consumir a partir do aumento dos repasses para R$ 600.
Mas, apenas 5 das 17 capitais analisadas pelo Dieese tinham cesta básica abaixo de R$ 600, valor do Auxílio Brasil.
As cinco ficam no Nordeste: Recife (R$ 598,14), Natal (R$ 580,74), Salvador (R$ 576,93), João Pessoa (R$ 568,21) e Aracaju (R$ 539,57).
São Paulo teve a cesta básica mais cara em agosto: R$ 749,78. Na sequência, vieram duas capitais do Sul: Porto Alegre (R$ 748,06) e Florianópolis (R$ 746,21). O Rio de Janeiro (R$ 717,82) foi a outra metrópole com valor acima de R$ 700.
Ao se comparar o custo da cesta e o salário mínimo líquido, após o desconto de 7,5% da Previdência Social, o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em média, 58,54% do rendimento para adquirir os alimentos em agosto, apontou o Dieese.
O percentual ficou abaixo do verificado em julho (59,27%). Um ano antes, em agosto de 2021, a proporção estava em 55,93%.
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